31 May, 2006

Guadalajara e Morelia

Estou em casa!

Pára, pára, pára... assim meu coração não aguenta  Se você nunca visitou Guadalajara, por favor, pegue suas últimas economias ou venda aquele aparelho de jantar que sua mãe nunca usou e siga para Guadalajara. A cidade é uma preciosidade e tem um clima maravilhoso, sem falar na paixão que as pessoas têm pelo Brasil.
Depois de Tequila, onde passei sem tomar nem gole da famosa bebida, segui para Guadalajara, cidade que tanto queria conhecer. A entrada da cidade foi meio decepcionante, pois qualquer cidade grande esquece que a qualquer momento pode chegar alguém de bicicleta. Mas ao me aproximar do centro da cidade tudo foi mudando, com as ruas mais tranqüilas, Guadalajara começava a se revelar e mostrar por que é tão famosa. O conjunto arquitetônico da cidade é lindo e muito bem conservado. Cheguei à cidade pela tarde e, já cansado, procurei um Hostel ou melhor um Albergue da Juventude para me instalar. Lá, já comecei a sentir quanto é bom ser brasileiro em Guadalajara. A menina da recepção quando soube que era brasileiro abriu um sorriso e disse estar aprendendo português na universidade. Ligou o aparelho de som e colocou um CD do Caetano. Pronto, já estava em casa.
Este Hostel, ainda me aguardava surpresas. À noite, no salão principal, me peguei conversando com um grupo bastante eclético. Tinha um inglês (louco... já digo porque), um americano ( mais louco...este é um capitulo a parte), uma canadense, um japonês, uma francesa e um casal mexicano. Isto sim é globalização. Conversamos a noite toda e descobri coisas fantásticas, como a história do amigo da canadense que está caminhando da India até Paris. A viagem levará três anos e parece que ele já está andando a um ano. A minha viagem pareceu fácil perto desta.
Quanto ao inglês, disse que é louco porque nunca ri tanto de uma pessoa. Só um exemplo de como o cara é maluco. Saí para ir ao mercado com ele e no caminho ele parava para experimentar a água de todos os chafarizes públicos... As águas eram bem sujas e quando perguntei porque fazia aquilo, disse para não me preocupar pois foi uma coisa que aprendeu na India.
Ah... já o americano, guardem bem este nome: Robert, ele ainda vai virar história de algum filme. O cara estava conversando comigo e com o inglês, quando perguntou se queríamos ver algo interessante, que segundo ele era o motivo que o trazia ao México. Diante da nossa curiosidade, ele foi buscar uma maleta. Quando abriu a maleta tirou de dentro uma bolsa térmica que continha um pedra que funcionava como um apito, segundo ele era um artefato milenar que havia encontrado no Colorado, trabalhando numa fazenda. Pronto... estava diante um Indiana Jones, ou na melhor das hipóteses diante de outro Jose Riveira. Ele nos contou que nos Estados Unidos não podia ficar com aquele material pois o governo lhe confiscaria. Então ele fugiu para o México com a pedra. O objetivo dele era entrar em contato com o Mercado Negro de materiais arqueológicos para vendê-la. Eu não conseguia acreditar... e o inglês passava mal de rir enquanto dava conselhos para Robert. Foi demais para minha cabeça no primeiro dia de Guadalajara.
No segundo dia, saí para conhecer a cidade, desta vez a pé. Deixei minha parceira descansando. Como disse a cidade é maravilhosa com suas Igrejas e museus muito bem conservados.
E pela rua era só alegria. Quando parava para pedir alguma informação e a pessoa descobria que era brasileiro, era tratado como chefe de Estado. Na padaria, foi o melhor.Comecei a conversar com aquele que parecia o dono e elogiar os pães mexicanos.  Estou apaixonado pelos pães mexicanos. Papo vai, papo vem, o senhor descobre que sou brasileiro...pronto. Dai em diante, acho que fiquei uns 20 minutos só experimentando pães, detalhe, sem pagar nada por isso. Para finalizar o dia, fui ao Estádio Jalisco, onde jogamos na Copa de 70. Só para se ter uma idéia, na frente do Estádio tem uma praça chamada Brasil..Pode parecer brincadeira, mas foi o único lugar que passei aperto. Na praça dormia alguns mendigos, um acordou e veio na minha direção gritando e ameaçando me bater. Virei de costas e segui meu caminho, acho que falta segurança na Praça Brasil, ou seria algo para a gente entrar no clima do país?
Depois de um banho de cultura colonial hispânica, segui viagem agora rumo à Cidade do México. Dei uma boa esticada de 120 km no primeiro dia, pois as autopistas mexicanas estão muito boas. Passei a noite numa cidade chamada La Barca. Fiquei num destes hotéis de estrada. O mais legal e surpreendente foi a senhora Cleo. Vizinha do Hotel, tinha um pequena lanchonete onde havia Internet. Parei a bicicleta em sua porta e fui usar a Internet. A conexão estava ruim e ela foi me pedir desculpas. Começamos a conversar e ela se interessou pela bicicleta, quando acabei de contar o que fazia, ela buscou um caderno e me pediu um autógrafo. A princípio recusei, pois fiquei com vergonha, mas ela insistiu. Acabei cedendo e em La Barca dei o primeiro autógrafo da minha vida, todo envergonhado, mas dei.
Dia seguinte, mais 100 km e sem lugar para dormir, foi aí, que no mapa percebi que vinha um pedágio. Foi lá, perto do Posto Policial e atrás do Posto da Cruz Vermelha que eu dormi. O problema foi que acordei com a chuva. Nada pior do que estar acampado e começar a chover, ainda mais se seu meio de transporte é uma bicicleta. Não tem como acordar de bom humor. Segui viagem na chuva e para melhorar minha parceira furou o pneu. Nessas horas a vontade é quebrar a bicicleta, ligar para casa e dizer que amanhã estará pegando um avião de volta. Mas, com paciência, coisa que venho trabalhando muito esses dias, consertei o pneu e segui viagem.
Passando perto da entrada da cidade de Morelia, não sei o que me deu, mas virei a bicicleta e decide entrar. Não estava nos meus planos e fugia 25 km da minha rota, mas o coração mandou e obedeci. Pois bem, eu acho que foi a melhor decisão dos últimos dias.O Centro Histórico da cidade é Patrimônio Cultural da Humanidade e suas construções do século XVI são maravilhosas..A cidade foi sede episcopal durante o período colonial, sendo assim as igrejas no estilo barroco são de deixar o queixo caído. Os conventos, então nem se fala. Eu que estava deslumbrado com Guadalajara, fiquei ainda mais com Morelia.  A cidade tem um clima jovial, pois é uma cidade universitária. Devo avisar que depois de Guadalajara, se ainda sobrar dinheiro, venha para Morelia, você não vai se arrepender, é linda.
Amanhã, parto em definitivo para cidade do México, isso se não aparecer outra Morelia. Ate lá, serão três dias de pedal (eu acho). Então, até a Cidade do México.
Rômulo Magalhães

30 May, 2006

difícil arrumar computador

Está difícil arrumar computador... amanhã escrevo sem falta. Estou em Morelia... acho que se vier pela frente outra cidade igual Guadalajara acho que paro de pedalar e vou morar la... Meu irmão, Guadalajara estará para sempre no meu coração, os caras amam o Brasil! Até na padaria me deram pão só por ser brasileiro...




25 May, 2006

Vai fazer falta...

Hoje, eu escrevo da cidade de Tequila, Estado de Jalisco a 70 km de Guadalajara. Era para eu estar radiante, pois desde que comecei a planejar minha viagem, a cidade de Guadalajara se tornou meu sonho de consumo. Mas, hoje, tao perto desta cidade, perdi uma parte de mim. Perdi minha bandeira do Brasil. Ela se desprendeu e eu não vi. Percorri o mesmo caminho várias vezes e não a achei. Pode parecer bobagem, mas quando se está viajando de bicicleta a gente faz um voto de desapego material e as poucas coisas que podemos carregar passam a ter um valor enorme. A bandeira era a minha identidade, tinha o maior orgulho de passar pelas pessoas e algumas gritarem : Brasiiillll !!!! Alem do mais, me aproximava dos mexicanos. Com ela, eu não era um "gringo" e sim, um "hermano" brasileiro.
Desculpem, o desabafo. Mas hoje realmente bateu uma tristeza grande. Mas nada que Guadalajara não possa curar. Vou pedir para mandarem outra para cidade do México. Até la serei mais um "gringo" andando de bicicleta, como eles mesmo dizem aqui no Mexico.
Pois bem, depois de La Paz, atravessei o Mar de Cortes de "ferry". Foram umas 20 horas de viagem dentro de um barco que de tão ruim, acho que as barcas Rio e Niterói dão de 10.
Este "ferry" é responsável por transportar pessoas, carros e caminhões. Apesar de por fora parecer bem agradável, o lugar que me acomodei não era dos mais bonitos. Comprei o passe mais barato, mas posso dizer que não foi a melhor das economias. Durante a noite, dormindo no chão dentro do saco de dormir, acordei algumas vezes com a visita de algumas "baratinhas". Na terceira, fui dormir do lado de fora, ao céu aberto. Foi a melhor opção.
Ao acordar fui tomar café e estudar o mapa do México  Depois de chegar a Mazatlan, eu seguiria sozinho, pois o espanhol iria de ônibus até a cidade do México  Enquanto eu e o Marcos olhávamos o mapa, apareceu um caminhoneiro pedindo para ver o mapa. Seu nome era Armando. Ele estava fazendo sua primeira viagem até a Cidade do México e não sabia bem as direções. Emprestamos o mapa e ele foi mostras para alguns companheiros. Quando voltou, começamos a conversar e responder as mesmas perguntas de sempre. Alguns caminhoneiros que ouviam o papo começaram a me assustar com o perigo da estrada para Tepic. Falaram que estava com tráfego intenso e que era perigoso para bike. Foi ai, que Armando nos ofereceu carona. Estava seguindo para a Cidade do México e disse que uma companhia seria boa. Diante de um apelo como este,  não recusamos.
Mas eu pedi para ficar na cidade de Tequila. Primeiro, porque queria conhecer a cidade e segundo porque queria entrar na cidade de Guadalajara pedalando. Armando era um cara simples e bastante bem humorado. Foi nos contando sua história, principalmente sua tentativa de imigrar ilegalmente para os EUA. Tentativa frustada, mas contada por ele, foi muito engraçada.
Cheguei a tarde a cidade de Tequila. Desci do caminhão e me despedi do meu amigo espanhol. Ele seguiu com Armando ate a Cidade do México. Foram dias importantes, os que passei com o espanhol, valeu a pena a companhia. Que siga em paz e tenha uma ótima viagem.
À noite, me acomodei numa pensão . Pela manhã, sai para conhecer a cidade. Belíssima ! Toda ela dedicada a produção da tequila. Claro, e ao turismo que essa bebida proporciona. As destilarias são enormes e algumas como a Cuervo são cinematográficas. Visitei o museu e fiquei pela ruas vagando. A perda da bandeira tinha mexido comigo, não estava muito afim de interagir.
Acho que volto para mesma pensão hoje a noite e sigo para Guadalajara amanhã cedo.
Até Guadalajara. E que Marcos siga com Deus, mesmo que não queira.
Romulo Magalhães


ps: o último post foi atualizado com mais uma foto!

22 May, 2006

A viagem continua...

Salve Jose Riveira !!!!

Cheguei na minha última estação na Baja Califórnia  Escrevo da cidade de La Paz, a capital da Baja Sul. Não foram 350 km como havia previsto e sim 420 Km, mas foram tranquilos. Completei meu primeiro desafio, pois dividi minha viagem em 5 grandes etapas: A Baja foi a primeira. Percorri quase 1500 KM, 1200km pedalados.
Continuo a pedalar com meu novo amigo espanhol. Não posso dizer que já somos grandes amigos, mas a parceria nas estradas tem sido boa. Cada dia descubro uma nova do cara... Agora eu descobri que é ateu. Só por isso faço questão de entrar em cada igreja das cidades que passamos, o cara fica enlouquecido. Na última cidade antes da Baja consegui um lugar para nos acamparmos no pátio de uma Igreja, ainda vou converter o espanhol.
Desses 4 dias de viagem até La Paz, eu tenho que destacar uma figura que conheci na cidade de Insurgentes, cidade pequena de no máximo mil habitantes. Seu nome é Jose Riveira.
Pois bem, estávamos na porta de um mercadinho almoçando quando vem em nossa direção um senhor simples e nos pergunta de forma muito respeitosa de onde era aquela bandeira. Ao responder que era do Brasil o sujeito abriu logo um sorriso. Posso dizer que é um orgulho ser brasileiro nessa horas. Oh, país simpático, não há quem não goste. A magia de nosso futebol mais nossa fama de festeiros ultrapassa qualquer fronteira. Em pleno deserto californiano nossa bandeira conseguiu alegrar por minutos um simples cidadão.

Começamos a conversar e responder as perguntas de sempre sobre o estilo de viagem. Até que no meio do papo, fomos convidados para passar a noite em sua casa. Disse que ele e sua esposa adoravam receber turistas e que sua casa era grande. Teria cama para nos oferecer, além de comida para o jantar. Olhei para cara do espanhol e ele parecia não acreditar. O cara além de ateu. pensa mais com o estômago do que com a cabeça. Aceitamos o convite e para lá fomos.

A recepção foi de gala. Fomos apresentados a sua esposa que já  foi oferecendo suco e tacos. Sr. Jose nos apresentou a foto da família  Era pai de 11 filhos e tinha orgulho em dizer que todos eram diplomados e viviam em lugares diferentes do México. Disse que, apesar de fazendeiro, conseguiu formar os 11 filhos. Isso que é família grande. Olhando para a frágil Senhora Clemencia não a quem diga que era capaz de gerar 11 filhos.
Jantamos e fomos convidados pelo senhor Jose a conhecer sua biblioteca. Aí a coisa começou a ficar inacreditável. Em pleno deserto, encontramos um fazendeiro com uma bela biblioteca, que segundo ele passou a se dedicar depois que não pôde mais trabalhar. Já tem 70 anos e sofreu duas paradas cardíacas. Restou a ele estudar e aprender coisas sobre o mundo.
Durante o papo, todo ele gravado numa fita, foi sendo nos revelado coisas magníficas. Sr. Jose tinha o hábito de gravar as conversas que tinha na biblioteca e depois arquivar. Pois é, estou gravado para sempre na cidade de Inssugentes. Disse que sua fazenda parou de funcionar quando seus poços secaram, então comprou terrenos ao longo do Pacifico para fazer cultura de camarões. Construiu uma lagoa artificial com as águas do Pacifico em seu terreno e começou a criar camarões. Segundo ele, foi o recordista mundial de produção de camarões por hectar... estávamos diante um recordista mundial, que tinha fotos para comprovar tudo, era inacreditável.
Mas não parou aí, disse que o governo o impediu de trabalhar com camarões, não entendi direito, mas tinha ligação com a cobrança de impostos exagerada. Pois bem, depois de duas paradas cardíacas,  desistiu de lutar contra a maré e decidiu se dedicar a sua biblioteca. Os seus terrenos perto do oceano Pacifico ficaram esquecidos, até que num de seus passeios, achou artefatos indígenas. Começou, então a recolher estes artefatos e colecionar em sua casa. Quando começou a nos mostrar. Quase cai para trás. Poucos museus de antropologia tem tantas peças. Parece que nosso amigo achou um sitio arqueológico e não contou para ninguém.

Não queria ninguém em suas terras. Para Sr. Jose aquelas peças deviam ir para um museu, mas só faria aquilo quando trocassem o governo. Disse não querer agradar o atual governo do Fox, esperaria ate o PRI (Parido Revolucionário Institucional), voltar ao poder.
Depois de uma noite de sono em camas confortáveis, eu e o espanhol fomos visitar de carro este sitio arqueológico  foi inesquecível !  Sr. Jose nos falou que éramos os primeiros estrangeiros a conhecer o local.... pura emoção.
Voltamos para casa, almoçamos com Sr. Jose e esposa e decidimos partir. Mas antes de partir, ele nos convidou para rezar um Pai Nosso (para a alegria do espanhol) e chorando nos agradeceu a visita. Eu não podia acreditar, nos que estávamos de visita e aquele senhor, vivendo naquela simplicidade, nos agradecia chorando. Recebi um dos abraços mais carinhosos da minha vida e sem poder evitar também cai em prantos...
Fomos embora e seguimos viagem ate Las Pocitas e no dia seguinte para La Paz. Estou agora aqui em La Paz esperando o barco para Mazatlan que só sai na terça. Tenho mais um dia para descansar e pensar em tudo no que aprendi com meu amigo Jose Riveira... o mundo seria melhor se existissem mais homens como este...

Até a próxima,
Romulo Magalhães

18 May, 2006

Em boa companhia


Depois de Mulege, continuei a seguir viagem com o Marcos (o cicloturista espanhol). O cara trabalhou forte na Espanha, juntou dinheiro e agora já está há 7 meses viajando por diversos países do Mundo: Australia, Nova Zelandia, EUA e agora México. Numa de nossas conversas, eu falei para ele que um dia pedalaria em Cuba. Para que fui dizer isto... o cara me olhou e disse : É isso, depois do México vou para Cuba". E eu achava que me faltava um roteiro mais completo, perto do cara eu sou um careta. O cara só carrega um mapa e só compra mapa novo quando chega no país que deseja conhecer.

A troca de idéias tem sido uma boa. Tenho aprendido bastante com ele. Ah... e agora tenho um tradutor, porque entender tudo que meus amigos mexicanos querem dizer é um desafio à minha inteligência.
Chegamos juntos a Loreto. A cidade é linda, aqui foram constituídas as primeiras missões jesuíticas espanholas. Esta cidade foi por algum tempo a capital de toda California. Tem um museu muito organizado e uma bela estrutura turística. Tirei um dia de folga da bike e só andei pela cidade. Foi um dia de turismo de verdade. Dei este presente para mim.
Agora faltam 350 Km para chegar a La Paz, daqui para diante só camping em pequenos ranchos, o próximo banho acredito que seja daqui  três dias. Acredito que até La Paz tenha a companhia do meu amigo espanhol. Tem um lado bom, pois tenho com quem conversar durante as viagens de bike. 100 KM ou mais, sem ninguém para conversar as vezes é um tédio. Eu converso comigo mesmo, com as fotos que carrego dos meus pais e da família, mas tem sido bom pedalar acompanhado. Porém, tira um pouco da liberdade e do acesso as pessoas. Depois de La Paz, volto a viagem solo. Até a próxima parada.


PS: O ÚLTIMO POST (O POST ABAIXO) FOI ATUALIZADO COM 3 NOVAS FOTOS!!! DÊEM UM OLHADA!

15 May, 2006

4 dias que valeram por uma vida !!!

Pois bem, passei 4 dias que me valeram a vida. Estava tenso com a possibilidade de atravessar o deserto, mas foi nele que realmente percebi que a viagem já valeu a pena. De simples viajante, sujo e esfomeado, fui auxiliar de caminhoneiro e no mesmo fim de semana, jantei com um casal de americanos. Cardápio: salmão acompanhado de vinho, ainda na companhia de um outro cicloturista espanhol que esta pedalando a Baja California.

Pois bem, como havia previsto, pedalei pouco na Quinta-feira. Segui até um acampamento que havia lido no meu guia, e decidi por la acampar. O acampamento não tinha nada a ver com o que prometia o guia. Mas era muito bonito. Totalmente deserto, havia somente um restaurante. O restaurante da Laura. Quando cheguei na havia ninguém, somente uma senhora sentada esperando por um possível cliente. Pois bem, ele chegou. Conversamos, ela me contou histórias sobre o lugar e as atuais dificuldades. Segundo ela, o Camping está vazio porque os americanos estão evitando viajar devido ao aumento da gasolina. Vai saber... Comi alguns tacos e pedi para acampar sob o restaurante. Feito o acordo, fui montar acampamento. O lugar era de uma paz espiritual incrível.
O duro foi passar a noite sozinho, começou anoitecer e o medo chegou. Quem me conhece sabe do que estou falando. Mas de repente me aparece uma vira lata, que não sei porque gostou de mim e passou a ficar do meu lado. Foi minha vigia. O problema era que quando latia, eu sai de dentro da barraca, me escondia atrás de uma pilastra e ficava esperando algo aparecer, nada acontecia, voltava a dormir. Acho que desta vez me superei.. assinei meu "Diploma de macho."
Acordei Sexta e segui para El Rosario de Arriba, este "de arriba" não me agradou... Foi um dia de muitas subidas, mas tudo deu certo. Chegando na cidade fui procurar um lugar para dormir, mas estava díficil.. Tive a ideia de seguir mais adiante. No caminho decidi pegar uma carona atá Catavina, umas da primeiras cidades do deserto. Decidi parar perto de um restaurante cheio de caminhões a frente. Fiquei parado tentando escolher o caminhoneiro com o perfil mais amigável, o que tava difícil... Até que aparece uma figura num caminhão caído ao pedaços e me cumprimenta. Para que... fui ate lá e perguntei se me levava até Catavina. Disse que sim e que ele passaria a noite lá, depois seguiria viagem.

Pois bem, até Catavina, segui de caminhão. Lá dormi na carroceria, pois estava calor e o caminhoneiro disse não se importar.
Acordei, depois de uma note tranquila e fui até a cabine agradecer a carona. Foi aí que ele se apresentou e me convidou para tomar cafe num "Rancho" ali perto. Seu nome: Manuel. Pois bem, fomos até o Rancho, tomamos café. Na saída, tinha um caminhão parado a procura de ajuda. Manuel foi até lé e disse que o problema do caminhão era óleo sujo... Acreditem ou não, acho que o Manuel inventou isso, pois do nada, apareceu com um galão de óleo para vender para o rapaz.
Pois bem, aí que vem a mudança de planos... Pois para trocar o óleo precisava tirar uma tampa de baixo do eixo das rodas traseiras. Manuel disse que não conseguia e o dono do caminhão, muito gordo, também não. Adivinhe quem fez o serviço. Pois é, ganhei moral com a rapaziada...

Tive que seguir viagem de caminhão pois o Gordo me convidou para almoçar... Não tive como recusar... Segui deserto adentro. Almoçamos e depois do almoço o caminhão do Gordo não funcionou. Conclusão, o problema não era óleo. Eu, já parceiro do Manuel, saí de fininho com ele... e tomamos a estrada.
Por fim fui ate Santa Rosalia com Manuel. Já era de noite e dormi mais uma vez na carroceria. Ah... banho, desde quarta feira não sabia o que era.
Acordei já no domingo e segui agora de bike ate San Lucas... lá assisti um jogo de Baseball em pleno deserto e fui para um Camping.
Neste camping encontrei um casal de americanos, que ao me ver chegar, curiosos, começaram a fazer um monte de perguntas. Por fim me convidaram para jantar.

Havia tempo que não comia tão bem. No meio do jantar, aparece outro maluco de bike. Marcos, espanhol que está de viagem pela Baja. O cara é louco, só gosta de estrada de terra. Cheguei até Mulege, cidade que escrevo estas palavras, em sua companhia.
Resumo, o que apendi com o Manuel, nas conversas pelo deserto e no jantar com Jim, sua esposa e Marcos, não tem como transmitir nestas poucas palavras... Precisaria de horas para contar tudo que ouvi.
Até a próxima parada.

11 May, 2006

a ficha caiu!


Vou tentar fazer aqui um resumo dos últimos três dias. A segunda-feira foi o dia em que a ficha caiu. Deste dia em diante, passou a ser somente eu e a minha bicicleta. Por falar nisso, ando com dificuldade de batiza-la. Por enquanto só a chamo de "parceira", estilo Romario. Pois então, segunda parti em direção a Ensenada. Duas rodovias ligam Rosarito a Ensenada, uma que tem pedágio e a outra que é livre. Como somente a ultima é permitida para bikes foi por esta que segui. A livre passa entre a serra, então imagina o que eu subi de morro. Valeu o treino, já que o terreno Mexicano é muito alto. Só não sabia que os alforges ( bolsas que carrego na bike) iriam pesar tanto.
Quando cheguei a Ensenada, resolvi não parar e seguir um pouco mais adiante. Ensenada é extremamente turística e porto de chegada de cruzeiros, logo tudo muito caro. Segui ate uma cidade chamada Maneadero, onde encontrei um bom lugar para acampar, perto de uma pequena baia. O pôr do sol foi gratificante.

Terça feira acordei e tomei rumo a San Vicente, foram 83 km pedalados e estava lá a cidadezinha.  Muito cansado, procurei me abrigar logo. Consegui num mini-hotel a possibilidade de acampar no estacionamento e usar o banheiro. Desembolsei uns 50 pesos , o equivalente a 10 reais.

Depois de um cochilo, fui jantar e no caminho passava um carro anunciando o Circo Alegria, que na terca fazia uma promoção. Nem pensei duas vezes e fui para o Circo.

Foi uma das experiencias mais antropológicas da minha vida. Sobre isso só comento numa possível tese de antropologia.... Ali no circo, no meio daquela simplicidade e vendo todos dando gargalhadas do Palhaço Popo percebi que a felicidade pode esta em qualquer lugar... não preciso de muito para ser feliz. A vida não tem que ser como uma propaganda de margarina.

Na quarta-feira estava saindo de San Vicente quando fui chamado do outro lado da rua por um senhor. Estava bem vestido, parecia o uniforme de trabalho. Muito simpático perguntou onde ia. Quando acabei de explicar, disse que havia feito a mesma viagem de bicicleta com amigos há meses atrás e que tinha um roteiro detalhado sobre o caminho ate La Paz. Não estava com ele em mãos, mas disse para seguir viagem e que um de seus empregados da madeireira iria me entregar no caminho. Parece brincadeira, mas horas depois um carro me fechou na estrada e um rapaz saiu para me entregar um envelope. Dentro dele um roteiro cidade por cidade ate La Paz, minha ultima cidade na Baja. Com este presente segui viagem tranquilo.

Meu destino era Vicente Guerreiro, mas como estava empolgado só parei nesta cidade para comer e segui ate San Quintin. Este foi um erro de estrategia. Cheguei na cidade já anoitecendo e foi difícil encontrar um lugar para acampar. Comecei a ficar tenso e discutir comigo mesmo. No meio do "stress" fui atá um Motel e decidi passar a noite lá. O cansaço me levou a discutir comigo mesmo, foi preciso uma noite boa de sono.
Acordei e agora escrevo estas palavras... Mais descansado, pretendo pedalar pouco hoje. Ate agora já tenho uns 380 Km pedalados. O deserto se aproxima e preciso estar com a mente preparada. Não tenho dúvidas de que será um grande desafio. Ate a próxima Lan House...

Romulo.

10 May, 2006

10 de maio

A comunicação ta difícil. Estou usando o único computador da cidade que nem e-mail ta mandando. Ele fica na farmácia. Estou em San Vicente e hoje pretendo chegar a Vicente Guerrero. Assim que puder mando um e-mail para atualizar a página. Muito obrigado, ela está muito boa. Romulo

08 May, 2006

Primeiro dia de viagem...(07/05/2006)

Hoje (domingo, 7 de maio de 2006) foi um dia especial. Foi o dia da partida. Agora posso dizer que estou voltando para casa. Cada pedalada estarei mais próximo dos amigos e da família. Mas enquanto isso não chega vou procurar curtir o caminho e aprender o que ele tem para me oferecer.

Posso dizer que a partida foi dura, querendo ou não San Diego foi a minha casa por meses e sair de la, é como dizer adeus a uma etapa da minha viagem. Lá fiz amigos, ou melhor uma nova família  Esses caras que aparecem nestas fotos ai em baixo são com certeza uma nova família que tenho espalhado pelo Brasil e dois na Argentina.

Mas tive que sair. Os últimos abraços foram no Paraíba e no Felipe. Este ultimo me acompanhou alguns metros de pedicab. Posso dizer que nesse momento o coração ficou mais apertado do que nunca.

Cheguei na fronteira depois de 1 hora de pedalada. Fui até o Posto de Imigração Americano entregar meu I-94 e a cara de espanto do oficial quando viu meu meio de transporte foi hilária. Pegou meu documento I-94 e mandou Deus me abençoar.



Do lado mexicano foi o melhor. Primeiro não havia ninguém la. Depois apareceu um "gente boa" que foi chamar o tal do Comandante. Este me olhou com indiferença, mas carimbou meu passaporte. Pronto, agora estou em solo mexicano e vou ficar aqui por mais de um mês pedalando.
Neste primeiro dia cheguei em Rosarito. Cidade pequena e quintal de festa de jovens americanos. Na estrada fui parado, por um cara que queria tirar foto comigo. Foi ao mesmo tempo engraçado e emocionante. Deu a sensação que estou fazendo algo que as pessoas admiram. Foi bom para o ego.
Na primeira noite vou ficar num Albergue aqui em Rosarito. Aqui, conheci dois alemães que estão indo de van para a Guatemala. Descobri que tem mais doido no mundo.


Para encerrar,quero dizer que este foi um grande dia na minha vida. Com certeza não esquecerei jamais este primeiro dia.
Romulo Magalhães.
Abracos....

05 May, 2006

Bienvenidos!



Aqui começa a história de Romulo Magalhães de bike pela américa latina. Todos os textos e fotos serão mandados por ele e publicados no site por mim Charles Simão, um amigo que viveu alguns meses com o Romulo em San Diego. Minha parte termina por aqui,todos os textos (inclusive o primeiro) serão escritos por ele.
boa sorte!!

"Minha viagem trata-se de uma aventura pessoal sem fins lucrativos, feita pelo simples prazer de fazê-la. Sou recém formado em ciências sociais e estudante de história, e busco viver na pele tudo aquilo que aprendi nos livros. Quero ver de perto as "veias abertas da america latina". Quero conhecer essa rica cultura latina e por isso vou utilizar a bicicleta como meio de transporte, pois a pretendo me aproximar das pessoas e trocar experiencias.

sentado no pedicab



permissão para trabalhar



Car Wash Costa Verde - San Diego- CA.


galera de San Diego
Minha viagem começa em San Diego, California, cidade onde morei e trabalhei por 4 meses para poupar o dinheiro necessário para voltar para casa pedalando. Vim para cá através do programa Work and Travel, oferecido pela World Study, Niterói Rj. Trabalhei principalmente como 'pedicab', uma espécie de taxi de bicicleta e num Car Wash. Alem de melhorar o inglês, aqui pude me preparar psicologicamente para esta jornada, uma vez que neste tipo de programa o objetivo é testar sua capacidade de adaptação e empreendedorismo. Passado no teste, sinto-me preparado para esta futura jornada. "




bike pronta em frente de casa