28 July, 2006

Souuu da America do Sulllll!!!

Bem, depois de chegar a Cidade do Panamá, o desafio foi conseguir uma alternativa para chegar à Colômbia  Quando eu saí dos EUA tinha em mente pular a Colômbia  mas chegando aqui ao Panamá, essa ideia foi se transformando. Meu objetivo é voltar para casa pedalando e passando pelos países que fazem parte deste caminho. A Colômbia faz parte e decidi passar por lá também. A questão da segurança é uma coisa que pesquisei bastante e trocando ideias com outros viajantes percebi que é possível uma rota pela Colômbia  Para isso, fiquei aqui uma semana esperando um barco que siga pelo Pacifico e me leve ate ao porto de Buenaventura, perto de Cali. Desta forma estarei cortando a maior parte do pais, restando somente uns 400 km ate a fronteira com o Equador.





Bem, esta semana parado, de início, foi uma tortura. Venho a 2 meses e meio viajando quase todos os dias, acordando em lugares diferentes a cada dia. Os 3 primeiros dias me senti um prisioneiro. Fiquei mal humorado e cheio de saudades. Parecia um pássaro numa gaiola... perdi meu canto. Mas as coisas melhoram depois que me mudei para uma pensão na parte antiga da cidade. O lugar fica perto do porto e recebe muitos viajantes, o clima é fantástico. Digo, viajantes, pois não são simplesmente turistas, são pessoas que fazem do mundo sua própria casa. Turistas viajam e voltam para suas casas. Estes viajantes viajam e continuam sempre a viajar, sem paradeiro, são ciganos modernos.

Sempre tomo café com um argentino malabarista que percorre o mundo fazendo malabares em sinais de trânsito. E as vezes nos faz companhia um uruguaio que anda de bicicleta pelo mundo a fora, mas trabalha como artista plastico nas cidades grandes que passa. Muitos outros passam por aqui.

Foi neste ambiente que passei esta semana. Descansei e pude refletir o que vivi até aqui.As conversas eram de uma riqueza e poesia inesquecíveis. Parecia estar dentro de um livro de historias de viagens.

Pois, bem, hoje parto para Colômbia  minha porta de entrada para America do Sul, na companhia de um parceiro suico que aqui encontrei. Muito bom a sensação de estar pertinho do Brasil.



Até a Colômbia!

23 July, 2006

Costa Rica - Panamá

Ficar sem escrever muito tempo é ruim, pois perco um pouco da energia dos acontecimentos, mas foi necessário. Desde que entrei na Costa Rica segui sem parar até a Cidade do Panamá. Foram dias intensos, com médias de pedaladas superior a 100 km por dia. Cheguei muito cansado a cidade do Panamá, mas muito realizado. Hoje, quando eu acordei e comecei a pensar em tudo o que já aconteceu e fiquei com o coração transbordando felicidade. Estou há quase 2 meses e meio na estrada e não tenho como transmitir em palavras meu atual sentimento. Posso dizer que não foi fácil chegar até aqui, mas foi ao mesmo tempo magnífico o que vivi. Conheci pessoas maravilhosas, vi paisagens deslumbrantes e mais do que nunca cresci internamente com toda esta experiência. Bem, agora me preparo para chegar a nossa América do Sul. A viagem na Costa Rica foi bem diferente da Nicarágua. A vida na Costa Rica é bem mais cara e passei a maior parte dos dias acampando pelas praias. Este foi o primeiro país que não conheci a capital, pois optei em seguir a rodovia que passa na costa do pacifico. A escolha foi no todo muito boa, pois além de fugir das elevações do relevo central do pais, pude percorrer um litoral magnífico. Tinha momentos na estrada que tinha de um lado cachoeiras e do outro praias desertas. Além de passar por uma enormidade de rios, alguns deles com gratas surpresas, como um que havia uma quantidade enorme de crocodilos. Mas toda a beleza da Costa Rica vem sendo consumida por um turismo agressivo. O lugar parece ter se tornado o "grande parque temático" dos americanos. Tudo em inglês, impressionante! Algumas cidades como Jaco, era até difícil ouvir o espanhol pelas ruas. Turistas a procura de praias para surfar e do ecoturismo. É até legal, mas senti que esta 'invasão' fez o país perder um pouco sua identidade. Tudo é para agradar aos "gringos". O povo fica meio de lado. Ah... fora a especulação imobiliária, um numero enorme de terras à venda, direcionadas principalmente para os norte-americanos. Conheci uma senhora, Letícia, muito esclarecida, que falou que o país vem sofrendo com a venda destas terras, pois grupos imobiliários compram estas terras, fazem condomínios de luxo e vendem para os aposentados americanos. Chamou o país de "Costa Rica Sociedade Anônima".E acrescentou dizendo algo muito sério: “Quando o dominador vem com armas, você pode lutar, mas quando vem com dinheiro, não ha o que fazer". Eu fiquei dias pensando nisso. Bem, percorrido o litoral, cheguei ao Panamá. Logo na fronteira conheci um grupo de quatro americanos que vinham descendo desde a Guatemala com suas "super bicicletas". Eram um casal mais dois amigos. Muito legais. Os caras têm uma visão diferente da viagem, pelo menos, diferente da minha, além de um bolso um pouco mais farto. Eles encaram a viagem como um desafio esportivo, pedalam como loucos e chegam nas cidades maiores para se hospedarem em hotéis caros. Bem, no dia em que nos conhecemos, eu acompanhei o grupo. Chegando na cidade de David e eles foram logo procurando o Grand Hotel Nacional. Só pelo nome do hotel, eu já saí correndo. Mas, acho que eles acharam engraçado ter um solitário latino americano no grupo e me convidaram para ficar com eles no hotel. Falaram que como ficaria numa cama extra, eu tinha que pagar só 10 dólares. Acordo feito... 10 dólares, por piscina, pizza liberada, tv a cabo, e uma cama que, apesar de extra, fez inveja ao meu querido saco de dormir. Pois bem, depois de uma noite 5 estrelas, meus novos amigos partiram como loucos pela estrada e eu fiquei no meu ritmo, pois não dá para fazer 200 km por dia como eles pretendiam. Neste mesmo dia, eu vivi uma outra realidade, o que provou que nesta viagem pode acontecer de tudo. Percorri uns 115 km e cheguei a uma pequena cidade. Fui até um bar e perguntei se poderia acampar pelas redondezas. Lá, uma senhora me disse que havia um Centro Missionário Católico que recebia viajantes. Fui até lá e o padre me recebeu muito bem. Ele me indicou o alojamento e disse que podia passar a noite. Foi muito bom, pois comi no refeitório com as crianças que vivem lá e com as pessoas que trabalham no campo e passam a semana no lugar.  Esta flexibilidade que a estrada nos fornece é muito enriquecedora: um dia num hotel de luxo, outro num centro comunitário...sem palavras. No dia seguinte, agora já na cidade de Santiago, conheci um brasileiro. Fui até uma loja de bicicletas pedir uma ferramenta emprestada para apertar os pedais e conheci o Henrique. Ele vive há muito tempo no país e já tem um belo sotaque espanhol. Simplesmente me convidou para dormir em sua casa e lá descansar. Fui recebido como uma pessoa da família. Sua esposa nos preparou um bom jantar e fiquei a noite brincado com sua filhinha, tentando matar saudades dos meus sobrinhos. Ainda pela manha, ele me ofereceu um belo café e antes de partir, ainda me presenteou com bebidas isotônicas. Encontrar pessoas como Henrique faz a viagem ficar mais rica, pois a energia destas pessoas é como combustível: você segue mais confiante. Depois de Santiago fiz um longo caminho até a Cidade do Panamá. A pedalada foi dura até aqui, muita chuva, muita subida e vento. Mas ao avistar a Ponte das Américas, passou o cansaço e a dor nas pernas. Pena que um infeliz de um policial não me deixou atravessar a ponte pedalando. Falou que era proibido e que tinha que pagar 5 dólares...como assim? É proibido, mas se pagar pode? Falei que não tinha dinheiro e que precisava chegar à cidade. Ai o infeliz parou um pick-up e mandou eu atravessar de carona. Diante de sua estupidez, atravessei indignado a ponte de carona. Tudo bem, perto das coisas boas que me aconteceram no Panamá, perdoei a falta de gentileza do policial. A entrada na cidade foi debaixo de muita chuva, mas foi tranquila. Decidi tirar dois dias de folga aqui na cidade. Hoje, fiquei de molho e amanha vou sair para conhecer a cidade e decidir minha rota até a Colômbia. Meu desejo é conseguir um barco que me leve até Buenaventura, perto de Cali e dali seguir para o Equador. Bem, tomara que tenha barco!!!!!!

Abraços,
Romulo Magalhaes

15 July, 2006

Um scrap...

Eis o scrap do nosso grande gorila para a administração do seu blog:

"Pato, meu filho... como vai ? Irmão  estou com dificuldades de escrever, internet aqui é muito caro. Já estou a 100 km da fronteira com o Panamá, pedalei pela costa do pacifico. Passei por lugares deslumbrantes. Muita cachoeira, praias desertas e crocodilos.... Amanha estou no Panama,de la mando fotos e historias. Abraços."

Boa viagem garoto!!

09 July, 2006

Hotel, sorvete e novela....

Bem, acabou a mordomia. Minha passagem pela Nicarágua me permitiu realizar um turismo bem burguês. A situação econômica do país é muito complicada.
O que faz os preços muito baixos, incrivelmente baixos. A passagem do ônibus, por exemplo, é duas córdobas, o que em reais sai por quase 20 centavos. Um bom prato de comida sai por 2 reais e há hotéis por menos de 9 reais. Sendo assim, posso dizer que não recusei desfrutar desta realidade, que é péssima para o povo, mas faz a alegria de qualquer turista.
Uma semana dormindo em pequenos hotéis, com banheiro e televisão no quarto (primeira vez na viagem). Teve um dia que me vi tomando sorvete e assistindo a novela América (atualmente passa num canal do país) na cama. "Se era pobre nem me lembrava mais", como diz um amigo meu.Mas, ao sair para a rua, a realidade assustava um pouco. Manágua foi uma decepção, procurei por câmaras para bicicleta e não achei. Tentei um cartão telefônico internacional para ligar para casa, não achei. Uma capital bastante precária. Ah... num destes passeios pela cidade peguei um ônibus e depois me perdi, para voltar para o hotel peguei um táxi... estava muito burguês na Nicarágua. O melhor foi o preço do táxi: uns dois reais. Mas o táxi não é exclusivo na Nicarágua, mesmo comigo a bordo o taxista continuava oferecendo carona... conclusão terminei minha viagem dividindo o táxi com uma senhora que ia na mesma direção. Meio decepcionado com Manágua, segui viagem para Granada. Esta cidade me surpreendeu bastante, muito organizada e muito bem preparada para receber turistas, principalmente para aqueles que procuram estudar espanhol. O curso de uma semana sai por 39 dólares, fiquei com água na boca. Granada fica a margem do Lago Nicarágua, que de tão grande parece mar, você não consegue avistar nem de longe a outra margem, muito bonito.Eu acompanhei o lago ate a fronteira com a Costa Rica.
De Granada segui para Rivas e dai para a fronteira. Hoje, depois de dois meses de viagem cheguei à Costa Rica. Pedalei feliz, um dia para nunca mais esquecer. Ouvindo e cantando Raul Seixas às alturas segui pela bela rodovia de Rivas ate La Cruz, esta já na Costa Rica. Um caminho de puro verde e com um clima muito agradável. Pois então, inicio meu percurso pela Costa Rica. O problema é que o país é reconhecido como o mais caro da América Central. Vou ter que tirar a poeira da barraca e voltar a acender meu fogareiro. Miojo e atum enlatado, lá vamos nós...

Ate a Libéria...
Abraços,
Rômulo Magalhães

03 July, 2006

Cada semana uma nova fronteira

Saí da Cidade da Guatemala depois de dois dias de descanso. Lá tentei solucionar um problema sério: a falta de pneus para minha parceira. Comprei uma bicicleta híbrida, que possui componentes que não se encontram em qualquer lugar. Os pneus têm sido uma dificuldade. Mas parece que as dificuldades aparecem para que a gente possa conhecer boas pessoas. Assim foi na Guatemala. Depois de rodar toda a capital, encontrei uma loja a Cycler World, onde a rapaziada fez de tudo para encontrar uma solução para mim.Acabei trocando o tipo de pneus, que vem dando certo até agora. São pneus para bicicleta de corrida, o que me deu mais velocidade. Eles furam com mais facilidade, mas foi a única solução, pelo menos até Costa Rica.
A Guatemala ficou para trás, mas me deixou uma ótima impressão. Longe daquele terror que os mexicanos tanto falavam. O povo é muito gentil e foram vários os exemplos desta gentileza durante minha estadia. A única coisa de negativo que tenho para falar da Guatemala é o seu sistema de transporte urbano. Consegui ter saudades dos ônibus cariocas. Os ônibus da Guatemala, e dos demais países da América Central que passei até agora são ônibus escolares americanos reutilizados.Eles reformam estes ônibus e colocam pelas ruas e rodovias, uma aventura a parte. Na Cidade da Guatemala eu os utilizei para conhecer a cidade...inesquecível.
Depois da Guatemala, cheguei a terras Salvadorenhas.Neste país eu me assustei não pelo que vi, mas pelo que escutava. Coisas do tipo: “Olha, cuidado, ano passado mataram um suíço de bicicleta." Ihhhh... Não anda a noite não, o pessoal leva até as suas roupas".
Com muito receio, entrei no país. Mas fui me acalmando a partir do momento que seguia pelas rodovias. As pessoas me acenavam constantemente e nas paradas de descanso era tratado com muito carinho. O problema no país foi encontrar um mapa. Segui o primeiro dia sem, o que é um desafio a paciência. De bicicleta temos que ter a noção onde parar para descansar e calcular onde dormir, sem isso não dá para viajar de bicicleta.
No segundo dia de El Salvador, ainda sem mapa, fui ficando ansioso à medida que me aproximava da capital. Consegui um mapa turístico num posto, mas esse não me fornecia muitos dados. A caminho da capital, ofereci-me para ajudar um rapaz a trocar os pneus de sua pick-up. Seu nome era Edwin.Durante a troca do pneu, me apresentei e perguntei sobre as coordenadas para entrar na capital. Por essas coincidências da vida ele estava indo para lá, onde morava e estudava. Dividia o apartamento com seu primo e me convidou para passar a noite lá.
Pois bem, para quem não tinha nem mapa, passei a ter um teto também. Foi uma noite bastante agradável. Experimentei da culinária local e aprendi bastante da cultura jovem do país.
O triste foi ver como nosso país era representado na TV Salvadorenha. Um grupo denominado Axé Brasil, era uma das atrações de um canal do país. Eles cantavam ora em espanhol (pior que o meu), ora em português. E as coreografias eram inacreditáveis. Uns passos de musica baiana da década de noventa eram apresentados como a última novidade. Para minha vergonha, um dos hits do grupo era Marcha Soldado... Isso mesmo a marchinha infantil dançada com passos de Boquinha na Garrafa. E para explicar que aquilo não era Brasil. Uma dificuldade.
Depois de El Salvador segui para Honduras.Este país eu não posso dizer que conheço, pois só passei pela sua parte sul, uns 150 km mais ou menos. Foi ao menos interessante, pois em menos de uma semana mudei de país por três vezes.  Cada fronteira tudo muda: o sotaque, a comida a moeda... ah a moeda, quanta confusão eu fiz nesses últimos dias. Sai da Guatemala com Quezales, em El Salvador dólares americanos, em Honduras Lempiras e agora na Nicarágua : Córdoba. Nem o melhor dos cambistas não faria confusão, eu então... nem te conto.
Bem, depois da rápida passagem em Honduras, onde agradeci ter sido rápida, pois achei o povo muito mal educado. Pela estrada quando eu passava, gritavam: "GRINGO". Mas era um grito antipático, com um pouco de raiva. Esses eu nem respondia. Foi bom ter caído fora rápido.
Agora Nicarágua.O que mais me marcou neste inicio, foi a pobreza do país. Muito triste passar por suas estradas. Um número enorme de crianças e idosos tem como atividade consertar com terra os buracos das estradas, que são muitos. Eles ficam nas estradas pedindo dinheiro para os passantes. Difícil... muito difícil. Mas por incrível que pareça, o tratamento  de muito respeito, como se tivessem orgulho de ver um estrangeiro visitando seu país. Aqui, o grito de "GRINGO" vem acompanhado de sorriso. Mas não só de tristeza vive as estradas da Nicarágua. Aqui você morre de rir com o abuso das vacas e bois.Elas invadem a pista e param o trânsito por vários minutos. O  melhor é que o povo respeita. Com certeza as vacas indianas ficariam com inveja das nicaraguenses.
Bem, amanhã parto para a capital do país.Até Manágua.

Abraçõs,
Romulo Magalhães