Guadalajara e Morelia

Pára, pára, pára... assim meu coração não aguenta Se você nunca visitou Guadalajara, por favor, pegue suas últimas economias ou venda aquele aparelho de jantar que sua mãe nunca usou e siga para Guadalajara. A cidade é uma preciosidade e tem um clima maravilhoso, sem falar na paixão que as pessoas têm pelo Brasil.
Depois de Tequila, onde passei sem tomar nem gole da famosa bebida, segui para Guadalajara, cidade que tanto queria conhecer. A entrada da cidade foi meio decepcionante, pois qualquer cidade grande esquece que a qualquer momento pode chegar alguém de bicicleta. Mas ao me aproximar do centro da cidade tudo foi mudando, com as ruas mais tranqüilas, Guadalajara começava a se revelar e mostrar por que é tão famosa. O conjunto arquitetônico da cidade é lindo e muito bem conservado. Cheguei à cidade pela tarde e, já cansado, procurei um Hostel ou melhor um Albergue da Juventude para me instalar. Lá, já comecei a sentir quanto é bom ser brasileiro em Guadalajara. A menina da recepção quando soube que era brasileiro abriu um sorriso e disse estar aprendendo português na universidade. Ligou o aparelho de som e colocou um CD do Caetano. Pronto, já estava em casa.
Este Hostel, ainda me aguardava surpresas. À noite, no salão principal, me peguei conversando com um grupo bastante eclético. Tinha um inglês (louco... já digo porque), um americano ( mais louco...este é um capitulo a parte), uma canadense, um japonês, uma francesa e um casal mexicano. Isto sim é globalização. Conversamos a noite toda e descobri coisas fantásticas, como a história do amigo da canadense que está caminhando da India até Paris. A viagem levará três anos e parece que ele já está andando a um ano. A minha viagem pareceu fácil perto desta.
Quanto ao inglês, disse que é louco porque nunca ri tanto de uma pessoa. Só um exemplo de como o cara é maluco. Saí para ir ao mercado com ele e no caminho ele parava para experimentar a água de todos os chafarizes públicos... As águas eram bem sujas e quando perguntei porque fazia aquilo, disse para não me preocupar pois foi uma coisa que aprendeu na India.
Ah... já o americano, guardem bem este nome: Robert, ele ainda vai virar história de algum filme. O cara estava conversando comigo e com o inglês, quando perguntou se queríamos ver algo interessante, que segundo ele era o motivo que o trazia ao México. Diante da nossa curiosidade, ele foi buscar uma maleta. Quando abriu a maleta tirou de dentro uma bolsa térmica que continha um pedra que funcionava como um apito, segundo ele era um artefato milenar que havia encontrado no Colorado, trabalhando numa fazenda. Pronto... estava diante um Indiana Jones, ou na melhor das hipóteses diante de outro Jose Riveira. Ele nos contou que nos Estados Unidos não podia ficar com aquele material pois o governo lhe confiscaria. Então ele fugiu para o México com a pedra. O objetivo dele era entrar em contato com o Mercado Negro de materiais arqueológicos para vendê-la. Eu não conseguia acreditar... e o inglês passava mal de rir enquanto dava conselhos para Robert. Foi demais para minha cabeça no primeiro dia de Guadalajara.




Depois de um banho de cultura colonial hispânica, segui viagem agora rumo à Cidade do México. Dei uma boa esticada de 120 km no primeiro dia, pois as autopistas mexicanas estão muito boas. Passei a noite numa cidade chamada La Barca. Fiquei num destes hotéis de estrada. O mais legal e surpreendente foi a senhora Cleo. Vizinha do Hotel, tinha um pequena lanchonete onde havia Internet. Parei a bicicleta em sua porta e fui usar a Internet. A conexão estava ruim e ela foi me pedir desculpas. Começamos a conversar e ela se interessou pela bicicleta, quando acabei de contar o que fazia, ela buscou um caderno e me pediu um autógrafo. A princípio recusei, pois fiquei com vergonha, mas ela insistiu. Acabei cedendo e em La Barca dei o primeiro autógrafo da minha vida, todo envergonhado, mas dei.
Dia seguinte, mais 100 km e sem lugar para dormir, foi aí, que no mapa percebi que vinha um pedágio. Foi lá, perto do Posto Policial e atrás do Posto da Cruz Vermelha que eu dormi. O problema foi que acordei com a chuva. Nada pior do que estar acampado e começar a chover, ainda mais se seu meio de transporte é uma bicicleta. Não tem como acordar de bom humor. Segui viagem na chuva e para melhorar minha parceira furou o pneu. Nessas horas a vontade é quebrar a bicicleta, ligar para casa e dizer que amanhã estará pegando um avião de volta. Mas, com paciência, coisa que venho trabalhando muito esses dias, consertei o pneu e segui viagem.
Passando perto da entrada da cidade de Morelia, não sei o que me deu, mas virei a bicicleta e decide entrar. Não estava nos meus planos e fugia 25 km da minha rota, mas o coração mandou e obedeci. Pois bem, eu acho que foi a melhor decisão dos últimos dias.


Amanhã, parto em definitivo para cidade do México, isso se não aparecer outra Morelia. Ate lá, serão três dias de pedal (eu acho). Então, até a Cidade do México.
Rômulo Magalhães