23 July, 2006

Costa Rica - Panamá

Ficar sem escrever muito tempo é ruim, pois perco um pouco da energia dos acontecimentos, mas foi necessário. Desde que entrei na Costa Rica segui sem parar até a Cidade do Panamá. Foram dias intensos, com médias de pedaladas superior a 100 km por dia. Cheguei muito cansado a cidade do Panamá, mas muito realizado. Hoje, quando eu acordei e comecei a pensar em tudo o que já aconteceu e fiquei com o coração transbordando felicidade. Estou há quase 2 meses e meio na estrada e não tenho como transmitir em palavras meu atual sentimento. Posso dizer que não foi fácil chegar até aqui, mas foi ao mesmo tempo magnífico o que vivi. Conheci pessoas maravilhosas, vi paisagens deslumbrantes e mais do que nunca cresci internamente com toda esta experiência. Bem, agora me preparo para chegar a nossa América do Sul. A viagem na Costa Rica foi bem diferente da Nicarágua. A vida na Costa Rica é bem mais cara e passei a maior parte dos dias acampando pelas praias. Este foi o primeiro país que não conheci a capital, pois optei em seguir a rodovia que passa na costa do pacifico. A escolha foi no todo muito boa, pois além de fugir das elevações do relevo central do pais, pude percorrer um litoral magnífico. Tinha momentos na estrada que tinha de um lado cachoeiras e do outro praias desertas. Além de passar por uma enormidade de rios, alguns deles com gratas surpresas, como um que havia uma quantidade enorme de crocodilos. Mas toda a beleza da Costa Rica vem sendo consumida por um turismo agressivo. O lugar parece ter se tornado o "grande parque temático" dos americanos. Tudo em inglês, impressionante! Algumas cidades como Jaco, era até difícil ouvir o espanhol pelas ruas. Turistas a procura de praias para surfar e do ecoturismo. É até legal, mas senti que esta 'invasão' fez o país perder um pouco sua identidade. Tudo é para agradar aos "gringos". O povo fica meio de lado. Ah... fora a especulação imobiliária, um numero enorme de terras à venda, direcionadas principalmente para os norte-americanos. Conheci uma senhora, Letícia, muito esclarecida, que falou que o país vem sofrendo com a venda destas terras, pois grupos imobiliários compram estas terras, fazem condomínios de luxo e vendem para os aposentados americanos. Chamou o país de "Costa Rica Sociedade Anônima".E acrescentou dizendo algo muito sério: “Quando o dominador vem com armas, você pode lutar, mas quando vem com dinheiro, não ha o que fazer". Eu fiquei dias pensando nisso. Bem, percorrido o litoral, cheguei ao Panamá. Logo na fronteira conheci um grupo de quatro americanos que vinham descendo desde a Guatemala com suas "super bicicletas". Eram um casal mais dois amigos. Muito legais. Os caras têm uma visão diferente da viagem, pelo menos, diferente da minha, além de um bolso um pouco mais farto. Eles encaram a viagem como um desafio esportivo, pedalam como loucos e chegam nas cidades maiores para se hospedarem em hotéis caros. Bem, no dia em que nos conhecemos, eu acompanhei o grupo. Chegando na cidade de David e eles foram logo procurando o Grand Hotel Nacional. Só pelo nome do hotel, eu já saí correndo. Mas, acho que eles acharam engraçado ter um solitário latino americano no grupo e me convidaram para ficar com eles no hotel. Falaram que como ficaria numa cama extra, eu tinha que pagar só 10 dólares. Acordo feito... 10 dólares, por piscina, pizza liberada, tv a cabo, e uma cama que, apesar de extra, fez inveja ao meu querido saco de dormir. Pois bem, depois de uma noite 5 estrelas, meus novos amigos partiram como loucos pela estrada e eu fiquei no meu ritmo, pois não dá para fazer 200 km por dia como eles pretendiam. Neste mesmo dia, eu vivi uma outra realidade, o que provou que nesta viagem pode acontecer de tudo. Percorri uns 115 km e cheguei a uma pequena cidade. Fui até um bar e perguntei se poderia acampar pelas redondezas. Lá, uma senhora me disse que havia um Centro Missionário Católico que recebia viajantes. Fui até lá e o padre me recebeu muito bem. Ele me indicou o alojamento e disse que podia passar a noite. Foi muito bom, pois comi no refeitório com as crianças que vivem lá e com as pessoas que trabalham no campo e passam a semana no lugar.  Esta flexibilidade que a estrada nos fornece é muito enriquecedora: um dia num hotel de luxo, outro num centro comunitário...sem palavras. No dia seguinte, agora já na cidade de Santiago, conheci um brasileiro. Fui até uma loja de bicicletas pedir uma ferramenta emprestada para apertar os pedais e conheci o Henrique. Ele vive há muito tempo no país e já tem um belo sotaque espanhol. Simplesmente me convidou para dormir em sua casa e lá descansar. Fui recebido como uma pessoa da família. Sua esposa nos preparou um bom jantar e fiquei a noite brincado com sua filhinha, tentando matar saudades dos meus sobrinhos. Ainda pela manha, ele me ofereceu um belo café e antes de partir, ainda me presenteou com bebidas isotônicas. Encontrar pessoas como Henrique faz a viagem ficar mais rica, pois a energia destas pessoas é como combustível: você segue mais confiante. Depois de Santiago fiz um longo caminho até a Cidade do Panamá. A pedalada foi dura até aqui, muita chuva, muita subida e vento. Mas ao avistar a Ponte das Américas, passou o cansaço e a dor nas pernas. Pena que um infeliz de um policial não me deixou atravessar a ponte pedalando. Falou que era proibido e que tinha que pagar 5 dólares...como assim? É proibido, mas se pagar pode? Falei que não tinha dinheiro e que precisava chegar à cidade. Ai o infeliz parou um pick-up e mandou eu atravessar de carona. Diante de sua estupidez, atravessei indignado a ponte de carona. Tudo bem, perto das coisas boas que me aconteceram no Panamá, perdoei a falta de gentileza do policial. A entrada na cidade foi debaixo de muita chuva, mas foi tranquila. Decidi tirar dois dias de folga aqui na cidade. Hoje, fiquei de molho e amanha vou sair para conhecer a cidade e decidir minha rota até a Colômbia. Meu desejo é conseguir um barco que me leve até Buenaventura, perto de Cali e dali seguir para o Equador. Bem, tomara que tenha barco!!!!!!

Abraços,
Romulo Magalhaes

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

ae gorila, falei que o menino Pato ia dar conta!!
isso ae,viagem da doidaaaaa
abraacao

5:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

Po! vc não vai visitar nosso hermano Hugo Chavéz, q faz campanha pro Lula?
Tudo bem é muita contramão.
Em breve Colômbia e Equador...
"No Equador é mais forte"..

5:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

Continuamos aqui acompanhando tudo e torcendo por você, Rômulo. Guto e Mônica

12:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

Cara... conheci esse blog hoje e não sosseguei enquanto não li até o ultimo ponto!

Você está de parabéns e, com certeza tem mais um ciclista leitor pra acompanhar tudo por aqui e dar força na viagem!

Abraço!

8:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

Grande Romulo!
Sempre legal ler seus relatos!
Continuo acompanhando pari passu sua aventura!
Abração!
André Cyrino

6:32 PM  
Anonymous Anonymous said...

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