24 August, 2006

Equador (atualizado!!)

Dias difíceis...mas superados...
Bem, depois de chegar a Pasto, Colômbia, em um dia cheguei à fronteira com o Equador. A mudança de ares foi grande, principalmente no que diz respeito à segurança. Chegar ao Equador me deixou mais tranqüilo para viajar. Apesar de ter ficado apaixonado pela Colômbia, devo aceitar o fato de que aquele não é um dos lugares mais seguros para pedalar.
A primeira cidade foi Tulcan, uma pequena cidade que me permitiu degustar o
que enfrentaria nos próximos dias. Pude perceber o quanto educado é este povo. Parecia que já me conheciam, onde chegava, seja no mercado ou numa pensão, era muito bem tratado. Sem precisar dizer que sou brasileiro, fórmula que funcionou muito bem em outros países, mas que aqui não fez muito efeito. A educação e a gentileza parecem ser uma marca natural deste povo.
Em Tulcan, também comecei a sentir o que seria pedalar nos Andes. Duro demais, mas bem recompensado pelas paisagens. Fui pedalando pelos Andes e passando por pequenos povoados e cidades como San Gabriel, Ibarra, Otavalo, Cayame até chegar em Quito. Foi num destes dias de pedalada que cruzei a linha do Equador. Uma vitória particular, me senti o mais feliz dos humanos. Trata-se de uma linha imaginária, mas nas minhas circunstâncias eu pude sentir a travessia. Eu gritava como louco no caminho, coloquei o MP3 no volume máximo e parecia flutuar ao ritmo de ¨I feel good¨, cantado por James Brown.
  
                                                                         Latitude 0°





Mas, o dia não acabava ali. Neste mesmo dia cheguei a Quito. Cheguei, mas não recordei o aviso do meu amigo espanhol. Ainda no México ele disse: ¨Cuidado, com Quito, o trânsito é louco¨. Poucos minutos em Quito e veio a prova. Andava como de costume no acostamento, respeitando a sinalização, quando um carro decidiu entrar à direita e não percebeu que eu estava lá. Tentei sair, mas ele pegou a minha roda dianteira e o guidão. A roda virou quase um 8, e o guidão riscou toda a porta do carro. Eu quase nada sofri. Só um pouco de dor no ombro, no cotovelo e canela. Mas muito pouco. O problema foi o susto, não saia uma palavra da minha boca. O portunhol ficou entalado. Diante da situação, o motorista se foi e o povo da rua, a meu favor, tentou me acudir. Voltei a mim e segui cabisbaixo, empurrando a parceira e pensando no que o espanhol havia dito.


Cheguei a um albergue na parte moderna de Quito. Vale dizer que a parte moderna de Quito tem uma concentração recorde de Albergue. Sem mentira, acho que no mesmo bairro tem mais de 30. Restou buscar o mais barato e lá me instalar. Já era tarde e não teria como consertar a parceira. Sendo sexta-feira, fiquei o fim de semana na cidade. O sábado foi de luto, ainda mais porque não achava uma roda nova. Rodei Quito inteiro e não encontrava os benditos aros com tamanhos especiais. Voltei para o albergue e percebi que deveria esperar até segunda.
Domingo, acordei melhor, nada como um papo com a família. Sai para conhecer a parte histórica de Quito, considerada patrimônio Cultural da Humanidade. E realmente vale o título. Daí, depois de um domingo cultural o jeito foi esperar a segunda.


Meus pedidos na Catedral foram atendidos, na segunda de manhã, seguindo para uma loja de bicicletas disposto a adaptar uma roda nova, descobri uma outra, pequena e bem escondida. Entrei, contei a minha historia e perguntei sobre uma roda nova. Um jovem, bem disposto disse não ter, mas que tentaria dar um jeito naquela. Eu nem acreditei, a roda foi dada como perdida por mais de 8 lojas.
Parecia que tinha um parente meu sendo operado, pois eu aguardava apreensivo no balcão enquanto escutava o barulho das marteladas. Depois de um tempo, sai o jovem, sorridente e dizendo que fez o possível. O possível foi um espetáculo, a roda voltou a girar, não como antes, mas voltou. E como consolo me disse que eu andaria bem por mais uns 1.000 Km, dai teria que trocar. Com 1.000 Km chego em alguma cidade grande do Peru, onde buscarei uma alternativa.
Saí mais do que agradecido e segui enfrentando os Andes.

                           
                                                        Amigos de estrada nos Andes
  Rumo ao Vulcão Tungurahua. Até a cidade de Machachi fui bem, mas já perto de Ambato comecei a sentir o poder do vulcão. Uma semana depois e ainda estavam no ar as cinzas. Meus olhos ficaram rapidamente irritados. Porém, segui em direção à Ambato. Neste caminho, tive mais um dos encontros mágicos. Sentado a beira da estrada, estava um senhor ciclista com roupas coloridas e máscara de proteção contra as cinzas. Como me chamou a atenção, retornei e fui puxar conversa. E que conversa... O senhor se chama Hugo e mora em Ambato, estava descansando da sua volta diária de bicicleta. Decidi ficar ali, para seguir com ele.
Ex-treinador de ciclismo, encheu-me de perguntas e passou a dar algumas dicas. O Sr. Hugo tinha um filho ex-campeão da Volta do Equador de ciclismo. Mas contava a historia com certa tristeza, pois o filho tentou seguir carreira profissional nos E.U.A. e não deu certo. Nunca mais voltou. Sem seu filho para treinar, acho que naquele dia, sobrou para mim ser o atleta. Em minutos, se transformou em meu treinador e tamanha foi a intimidade que a até bronca levei.
Segui com ele até sua casa e depois do ¨Dia de Treino¨, fui recebido com um belo almoço. Lá conheci toda família.Na despedida, fui presenteado com uma pedra vulcânica do Tungurahua. Eu que tento sempre reduzir peso, viajo agora com uma pedra vulcânica, mas cheio de orgulho.
De Ambato vim até Riobamba, onde as cinzas se fazem mais presentes. Daqui de Riobamba partirei de trem até Aluasi O ar aqui esta péssimo para qualquer atividade. Escolhi este trem, pois segundo indicam é uma das viagens mais bonitas do Equador. Veremos... De Aluasi pretendo me despedir dos Andes e voltar a pedalar rumo à costa e daí para o Peru.


Até a costa equatoriana...
Ah... juro que não roubaram a minha câmera, o problema que não encontro uma boa conexão para mandar as fotos. Ainda estou devendo esta.

Abraços,
Romulo Magalhães

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Aproveite para comer a melhor comida costena peruana em Mancora!!! E prove um belo ceviche ( o do Equador e ruim!!)beijos, Erika

12:26 PM  
Anonymous Anonymous said...

Primo,

Estou vibrando com cada momento dessa viagem inesquecível... Pedaaaaaaala Romiiiiiinho... Vem com Deus!!!!

Um forte abraço,

Bruno

12:55 PM  
Blogger jrbass said...

Olá Rômulo!
Meu nome é Odir e estava fazendo uma pesquisa aqui na web, procurando por lojas de bike no Equador e tive a grata surpresa de dar de cara com o seu blog e curtir a sua história lá no Equador. Bem eu to voltando a pedalar agora a pouco tempo, digo praticar com regularidade as pedaladas por prazer e por saúde também. Tenho uma Trek 7300, comprada de um amigão, mas agora to afim de comprar uma Mountain bike da trek mesmo, como vc esteve em Quito e meu primo estará por lá em breve, vc acha tem alguam sugestão de loja para ele comprar uma Trek por lá com preço bom?
Grande abraço, saúde e sorte sempre.
e-mail: jrbass@gmail.com

7:40 AM  

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