15 August, 2006

Panamá / Colômbia (atualizado!!)

"Doutor, eu não me engano meu coração é Colombiano!!!"

E pensar que eu iria pular a Colômbia. Mas, eu venho aprendendo algo importante nesta viagem. Venho aprendendo a seguir a vontade do coração. Tem algo maior que manipula nosso coração, só que precisamos estar em paz para escutá-lo. (Sem querer dar uma de Paulo Coelho)
O que eu vivi desde que cheguei na Cidade do Panamá até agora aqui em Popayan foi difícil de acreditar, e muito mais difícil de contar.Nem dá para contar tudo, senão vou ficar com fama de mentiroso. Mas vamos por parte.
Como contei, fiquei dias esperando um barco no Panamá. Fiz de tudo, até oferecer trabalho no porto, eu ofereci, para pegar uma carona. Mas depois de muita paciência, apareceu um barco. O inesquecível: Doña Flor. O barco estava marcado para sair sábado à noite e teria como destino Jaque, a fronteira do Panamá com a Colômbia. Pois bem, eu e meu amigo Stefan, um músico suíço, fomos juntos pegar o barco.
Ficamos horas esperando até que permitiram nossa entrada no barco, digo barco, pois aquela lata pelo menos flutuava, de resto não se parecia com um barco. Nos avisaram que a viagem demoraria 14 horas e que na manha seguinte estaríamos na fronteira. Bem, viajávamos em companhia de colombianas que buscam mercadorias no Panamá para vender em pequenos povoados na Colômbia, alem de três índias grávidas e seus filhos. Completava o grupo um professor que trabalhava com comunidades indígenas.
O barco partiu, navegou por 30 minutos e parou. Nosso super "capitão" nos avisou que o motor apagou e que teríamos que esperar até a manha seguinte para consertar. Aí vem o inacreditável, pois ficamos 48 horas esperando o mecânico. Juro, 48 horas esperando chegar um mecânico para consertar o motor. Descobri muitas coisas interessantes nestas 48 horas. A primeira que o barco não tinha rádio e a segunda que não poderíamos voltar à costa, pois o barco seria multado mais uma vez. Logo, ficamos lá a deriva por dois dias. O suíço, coitado, não entendia nada, eu tentava acalmá-lo, mais ele ficou louco. Relaxei e passei a fazer contado com meus companheiros de viagem. Isso fez as horas passarem mais rápido. Completando o segundo dia, chegou o mecânico, consertou o barco e levou o suíço de volta para o Panamá, ele estava transtornado.
Na madrugada da terça feira partimos em direção a Jaque. Ah... e a comida, este é um capitulo a parte. De início me recusei a comer. O cozinheiro não inspirava confiança, alem de ser chamado de Satanás e ter as unhas mais sujas que já vi. Pois, alem de cozinheiro do barco, era auxiliar do maquinista. Mas, depois do primeiro dia, já estava até repetindo o prato e virei amigo do Satanás. Peixe, frango, arroz e banana frita, este era o cardápio. Já estava em casa. As fotos destes dias que são poucas, pois com medo de roubo, tirava fotos escondidas. Não podia aparentar ter grana naquele barco.Depois desta peregrinação, chegamos a Jaque. Agora, já não tinha mais meu amigo suíço, mas amigos colombianos que me ajudaram muito. De Jaque, no mesmo dia pegamos uma lancha rápida para Jurado. Lá, um povoado muito pequeno, fui recebido por um casal amigo das pessoas que estavam no barco. O casal era a Raquel e o Barra. Ele era capitão de uma lancha que transportava de tudo para Bahia Solano.


                                                             
                                                               Eu e meu amigo Barra

 Fui direcionado para esta casa, pois falaram que a Raquel falava muito bem o inglês, já que havia morado nos EUA. Nesta casa, passei três dias até seguir viagem para Bahia Solano. A Raquel realmente havia morado 7 anos em Houston, mas foi deportada em 2003. Uma pessoa incrível. Conversamos horas e horas. Das coisas mais interessantes que me disse, foi que seu sonho era ter um filho e nunca conseguiu. Fez todo tipo de tratamento nos Eua e nada. Daí, quando voltou para Colômbia viajou até Jaque, pois havia um chá indígena que curava as mulheres. Foi então que conheceu Barra, tomou o chá e teve seu filho. Por gratidão a este homem e a terra não sai mais dali. Eu achei a história linda.
E meus dias em Jurado foram incríveis. Eu andava no povoado com o titulo de viajante amigo do Barra. Estava novamente em casa. Saibam que era o único estrangeiro no lugar e o único com pele clara. Todos eram afros, descendentes ou indígenas. Uma lição de vida, pois não me trataram como um filho. A diferença era apenas visual, fui tratado como um igual. Uma menina de nome Jéssica se aproximou um dia me tocou e disse: "Você tem a pele vermelha... divertido".
Três dias depois segui com Barra e outros na lancha até Bahia Solano. Lá estava em festa, três dias, uma espécie de carnaval. Me alojei desta vez num pequeno hotel, para esperar por fim um barco para Buenaventura. Enquanto esperava o barco fui conhecendo muitas pessoas, entre elas um estudante costarriquenho que estuda nos EUA e fazia um trabalho para sua faculdade de Agronomia sobre a diversidade daquela área, distrito de Chocó. Depois conheci Alejandro e Angel. O primeiro um para-medico e o segundo responsável por um trabalho social num povoado perto do lugar. Foi com eles que passei meus dias até chegar o barco. Aprendi muita coisa sobre o lugar. Desde pesca, índios, guerrilha e diversidade da fauna e flora.

Uma coisa interessante destes dias foi acompanhar o Campeonato de Futebol Juvenil. Entendi porque a Colômbia fabrica tantos jogadores habilidosos, mas não vão a Copa. Todos querem jogar no ataque e preferem fazer malabarismos com a bola do que chutar para gol. Ficava louco. No fim Juradó foi campeão, para minha alegria e do meu amigo Barra. Chegou finalmente o dia de pegar barco para Buenaventura. Antes de partir, recebi um serviço. Alejandro pediu para eu entregar uma carta para seu irmão e um presente para sua namorada que viviam em Cali. Aceitei o pequeno desafio e parti.
30 horas mais de barco, desta vez com radio, GPS e até camarote para dormir. No total passei 105 horas dentro de barco e lanchas até chegar em Buenaventura. Deste porto, parti para Cali. Foram dois dias de muita subida. Sai do nível do mar e fui até mais de 2.000 metros de altitude. Duro de pedalar, mais muito lindo. A presença de militares pelas rodovias era de assustar. Fui revisado algumas vezes. Cheguei à cidade de Cali depois de uma descida de quase 20 km. Um sonho de descida. A parceira agradeceu.
Em Cali, comecei a buscar o endereço do trabalho do Jorge, irmão do Alejandro. Demorei umas 3 horas até que achei. O cara parecia não acreditar. Tive que mostrar fotos, contar toda a historia, até cair a ficha. Fui convidado para dormir na sua casa. Mas como ele estava trabalhando, um amigo seu, Juan, me buscou e me acompanhou. Neste mesmo dia, fui convidado para sair, para conhecer a noite de Cali. Olha, Cali está na Colômbia, mas deu um banho de segurança no Rio de Janeiro. Eu e os amigos de Juan caminhamos pela noite pelas ruas e parques da cidade. Muita gente pelas ruas, namorados pelas praças, isso quase uma hora da manha. Foi uma noite muito agradável, não só pela companhia, mas também pelo clima da cidade. Adorei Cali.
De Cali parti para Popayan. Uma rodovia muito bonita, mas cheio de subidas. Pedalei pela Cordilheira Colombiana dois dias até chegar à cidade.
Ontem, faltando uns 20 km para chegar, não agüentava mais de cansaço. Parei para descansar debaixo de uma árvore e uma caminhonete passou por mim e voltou. Era um casal muito simpático que queria saber de onde era, e para onde ia. Jorge e Fernanda me fizeram um monte de perguntas e por fim já intimo pedi uma carona até Popayan, não agüentava mais pedalar. Aceitaram numa boa e ainda me levaram para conhecer um povoado chamado Silvia, cidade conhecida como a Suíça colombiana, que fugia da minha rota. Fui convidado para almoçar junto com eles. E enquanto comia uma bela truta frita conversávamos sobre a Colômbia. Confessei a eles que meu coração agora também era Colombiano e que seu país ganhou um novo defensor.

                                                     
                                                           Fernanda experimentando minha bike



                                                                      Jorge e Fernanda

Deixaram-me num hotel de um conhecido deles onde recebi um bom desconto. Conheci um pouco da bela e colonial Popayan. A cidade tem toda uma arquitetura colonial e possui uma forte importância política para Colômbia. Foi daqui que saíram os homens que lutaram pela independência Colombiana. Lembrei muito de Ouro Preto, Minas Gerais.


Bem, agora estou indo rumo à fronteira. O caminho fica mais duro daqui para frente e muitos me recomendaram fazer esta viagem até Ipiales, fronteira com Equador, de ônibus, pois além da dificuldade do terreno, esta área está com forte presença da guerrilha. Como não quero abusar da sorte e estou muito cansado, vou de ônibus nesta parte final.
Bem, que Deus ilumine a Colômbia e meus novos amigos: Barra, Raquel, Angel, Alejandro, Jorge, Fernanda e todos outros que fizeram da minha passagem na Colômbia um tempo de aprendizado e emoção. Até o Equador.

Depois eu mando as fotos....
Abraços,
Rômulo Magalhães

14 Comments:

Anonymous Anonymous said...

oI, EU SOU RENATO, ESTOU TRABALANDO NA WORLD STUDY NITERÓI.

SÓ PRA TE AGRADECER A SENSAÇÃO DE ARREPIO QUE EU SINTO CADA VEZ QUE LEIO SEU BLOG.

VOCÊ É MEU ÍDOLO. E SE EU TIVESSE IDO AO TRUE CONTIGO, EU TERIA EMBARCADO NESSA. MAS SEM DÚVIDA, A VIAGEM SOLITÁRIA TEM SUAS VANTAGENS.

BOA SORTE !!!

6:58 AM  
Anonymous Anonymous said...

Fiquei sabendo da sua "loucura" por um amigo meu, e depois o Renato da World Staudy Niterói me mandou um e-mail comentando sobre você e sua viagem.
Li algumas coisas e fiquei admirado. Você realmente não bate muito bem da cabeça, rs.
Brincadeiras a parte, essa viagem deve estar sendo ótima. Conhecendo pessoas, cidades, países, culturas diferentes. É de invejar qualquer um.
Força na sua volta, e não desista.
Abraço

9:44 AM  
Anonymous Anonymous said...

Rômulo,
Suas histórias me lembram os romances de Gabriel Garcia Marques e Isabel Allende... Tantos personagens e acontecimentos inusitados... Aliás, vc não deixa de ser um personagem inusitado também!!! Está sendo um grande prazer acompanhar pela internet essa aventura. Continuo esperando um livro com mais detalhes dessa jornada. Que Deus continue te acompanhando e te protegendo.
Paula Vinha

12:03 PM  
Blogger Casa das Rosas said...

Meu Grande Amigo,
Que viajem incrível. Me emocionei com esse último relato. Fico muito feliz que estejas se encontrando e vendo que a vida tem grandes lições para ensinar nas coisas mais simples. Te aguardo aqui e que Deus lhe abençõe e acompanhe! Arthur Camargo

11:24 AM  
Blogger JorgeOK said...

Aê Romulo.
Recebi hoje um mail com o link do teu blog. A partir de agora vou acompanhar.
Um grande abraço, boa sorte e muita diversão pra ti.

JorgeOK
Caxias do Sul
Rio Grande do Sul

4:53 AM  
Anonymous Anonymous said...

Romulo

Boa sorte, muita sorte!!!
menino, amanhã 10 dias sem post.

Noticias!!

Deus te acompanhe sempre!!!

Bons parceiros e amigos sempre no caminho é o que desejo !!

12:06 PM  
Anonymous Anonymous said...

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2:25 AM  
Anonymous Anonymous said...

ola coisa feia voce e um boco de querer andar 400km de bicicleta ..

6:04 AM  
Anonymous Anonymous said...

ola romulo adorei suas historias ficaram muito boas adorei me lembra de coisas boas.....espero q vc continue assim q fassa varias viagems de bike pelo mundo e q vc seja muito famoso......um abraço e boa sorte nas suas viajens......

6:05 AM  
Anonymous Anonymous said...

me descupe foi por querer

6:07 AM  
Anonymous Anonymous said...

ola romulo vc e trocha de andar de bike 400km vc divia ter ido de carro para ser famoso não precisa gastar a perna andando 400km......

6:10 AM  
Anonymous Anonymous said...

romulo vc e um gato te amo lindão....

6:16 AM  
Anonymous Anonymous said...

romulo vc e um gato te amo lindão....

6:16 AM  
Blogger Ujan sharma said...

Thanks for your post. I’ve been thinking about writing a very comparable post over the last couple of weeks, I’ll probably keep it short and sweet and link to this instead if thats cool. Thanks.

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11:10 PM  

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